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ALTITUDE

É com muito bons olhos que vemos o aumento exponencial da popularidade do “training camp” entre os atletas amadores.
Cada vez mais ouço falar e vejo triatletas, corredores, ciclistas e nadadores encaixarem durante o ciclo de treinamento esse período específico para melhoria do desempenho.
Aos que não estão familiarizados, a expressão se refere à um determinado período que os atletas viajam e se reúnem por dias ou semanas para se dedicar com quase exclusividade a rotina de treinos e preparação esportiva.
Na liga americana de futebol americano, já é tradição a reunião do time durante o mês que antecede a temporada.
O comitê olímpico americano possui um grupo formado por fisiologistas, treinadores, médicos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais especializado nesse tipo de intervenção. As equipes olímpicas norte-americanas têm à disposição quatro bases fixas ao redor do mundo destinadas a esse tipo de treinamento.
O nadador Michael Phelps, por exemplo, realizou, no ano que antecedeu as olimpíadas do Rio 2016, nove training camps de aproximadamente 4 semanas cada como estratégia de preparação física e mental para a competição.
No Brasil, a prática entre os atletas profissionais também é comum e muito bem vista e aceita pelas delegações.
Seja na altitude ou não, o que os profissionais já fazem há algum tempo tem se tornado cada vez mais comum também entre os amadores. O período de férias do trabalho ou os feriados prolongados são utilizados por aqueles que querem sair da rotina e viverem, mesmo que por alguns dias, uma imersão completa na vida esportiva em um local diferente do habitual.
Mas deve-se ter muito cuidado e atenção antes de decidir por essa opção.
Primeiro, o período que for escolhido disponível para a viagem deve encaixar no seu planejamento dos treinos. Os treinos durante o training camp costumam ser mais frequentes, intensos e com maior volume e devem estar de acordo com o que está planejado para você naquele momento.
Procure grupos que tenham um nível de aptidão física semelhante à sua. Treinar em grupos mais fortes te coloca em risco sua saúde e aumenta riscos de lesões e grupos mais fracos pode te deixar frustrado e não render tudo aquilo que foi programado.
Outro cuidado bastante importante é garantir que o local programado tem a infraestrutura para receber aquilo que você planeja. Se o objetivo do training camp é não ter preocupação alguma além dos treinos, descanso e boa alimentação; deve-se ter certeza que os detalhes para que isso aconteça estejam bem alinhados. Há empresas e pessoas especializadas em preparar esse tipo de experiência. Algumas assessorias esportivas também organizam muito bem esse tipo de serviço.
Por último, deve-se garantir que se encontra em ótimas condições de saúde antes de se aventurar nessa jornada. Viajar doente ou com alguma dor ou lesão incipiente pode transformar a experiência em algo catastrófico. Por isso, vale muito a pena ser avaliado e orientado por um profissional que saiba as demandas e dificuldades fisiológicas que o atleta irá se expor. Principalmente aqueles que optarem pelo treinamento em altitude, já que, por exemplo, só o fato de estar em um local com menor pressão atmosférica com menor oferta de oxigênio representa um estresse ao corpo que deve ser adicionado aos cálculos das cargas de treinamento.
Sendo assim, a evolução das aptidões físicas e mentais somadas a oportunidade de conciliar o esporte com a experiência de conhecer novos lugares e pessoas é sim muito válida, desde que se respeita e tenha cuidado com os detalhes relevantes para essa imersão completa desejada.

INTRODUÇÃO

Nos jogos olímpicos de 1968, a altitude de 2600m da Cidade do México prejudicou o desempenho dos atletas não aclimatados nas provas de resistência e de longa distância, como ciclismo e maratona. Por outro lado, a menor densidade do ar na altitude, ajudou a provocar uma chuva de recordes mundiais e olímpicos nos eventos mais curtos e de esforço mais rápido como no atletismo de pista, halterofilismo, lançamento de dardo, entre outros. A partir de então, a ciência do esporte se aprofundou nos estudos da exposição hipóxica em altitude como um estressor ambiental importante para adaptações fisiológicas no atleta.
Atrelado a esse fato, o sucesso inigualável de atletas nativos de alta altitude de origem africana em eventos de resistência média e longa distância ao longo de muitas décadas, como os quenianos Dennis Kimetto e Eliud Kipchoge e o etíope Kenenisa Bekele tem tornado a realização de períodos de treinamento em altitude algo cada vez mais desejado. Hoje, o treinamento em altitude é considerado por muitos como um fator indispensável para o sucesso do atleta de alto rendimento.
O aumento do estresse hipóxico na altitude promove adaptações fisiológicas que, por sua vez, podem levar a melhorias no desempenho esportivo ao nível do mar (Flaherty et al. 2016).
Há uma fundamentação teórica sólida subjacente ao treinamento em altitude: várias adaptações fisiológicas que ocorrem em altitude podem ser exploradas para produzir melhorias significativas no desempenho atlético no nível do mar. No entanto, apesar de muita investigação científica, os mecanismos exatos que sustentam essas adaptações ainda precisam ser totalmente elucidados.
Contudo cuidados e condutas importantes são necessárias. Os atletas que viajam para a altitude para fins de treinamento correm riscos de sofrer os efeitos deletérios da altitude. O mal da altitude, a perda de peso, a imunossupressão e o distúrbio do sono podem servir para limitar o desempenho e, assim, inverter o processo tornando a experiência algo prejudicial para a saúde e performance (Flaherty et al. 2016).

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS À ALTITUDE

A pressão parcial exercida pelo oxigênio no sangue arterial (PaO2) diminui diretamente com a ascensão devido à queda progressiva da pressão barométrica. Esse efeito provoca a redução da saturação de oxigênio na hemoglobina e reduz o conteúdo total de oxigênio no sangue. Portanto, uma série de adaptações fisiológicas deve ser iniciada para compensar esse estresse hipóxico.



Flaherty G, O’Connor R, Johnston N, Altitude Training for Elite Endurance Athletes: A Review for the Travel Medicine Practitioner, Travel Medicine and Infectious Disease (2016)

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